TESTEMUNHA IRMÃ LUCIA, 15 ANOS NA MONGOLIA

 Vivi na Mongólia por 15 anos, onde cheguei com o primeiro grupo

Por Lucia Bortolomasi

Publicamos o testemunho da irmã Lucia Bortolmasi, Missionária da Consolata, que partilhou sua experiência de missão na Mongólia, durante a vigília Missionária diocesana de Roma, na catedral de São João de Latrão.21/10/21

Sou irmã Lucia Bortolomasi, Missionária da Consolata; vivi na Mongólia por 15 anos, onde cheguei com o primeiro grupo: dois missionários e três missionárias, após nosso Instituto decidir-se para uma presença na Ásia e o fez em espírito de comunhão com os IMC, para viver o carisma “ad gentes” recebido do Bem-aventura do José Allamano, nosso Fundador.

IMG-20211115-WA0011Os primeiros anos foram de inserção na nova realidade: estudo da língua e dos aspectos culturais e religiosos do país; de discernimento para ser disponível a iniciar uma pequena presença lá onde ainda não havia missionários.
Depois de alguns anos nos transferimos para Arvaiheer, a 430 Km da capital.

Uma vez tinha lido em um guia turístico sobre a Mongólia: “Chegando a Arvaiheer, se aconselha de prosseguir, porque aí não tem nada de interessante para ver”.
Deus, de modo misterioso, nos conduziu mesmo ali, naquele lugar aparentemente insignificante, para anunciar o seu amor.
Uma nova inserção, ainda mais exigente, incertezas, medo... com poucos pontos fixos que nos sustentavam: a oração e a fraternidade vividas com grande simplicidade e ausência de meios.

IMG-20211115-WA0012A missão na Mongólia nos pediu de morrer, de fazer verdade no mais profundo de nós mesmos, desfazendo nossas seguranças; pouco a pouco caíram-se as máscaras e experimentamos a nossa pobreza e fragilidade, dando lugar à misericórdia de Deus e sua Graça.
A Mongólia foi uma das maiores graças para mim porque me fez descobrir o essencial da vida.
Nesta caminhada missionária descobri o quanto é importante fazer cair, antes de tudo as nossas defesas, as nossas estratégias e modelos importados de outros lugares e experimentar o ser HOSPEDES E PELEGRINOS.

Na Mongólia são muitos os aspectos que nos recordam constantemente: a polícia e o oficio de imigração que nos controlavam, não somos casadas e nem temos filhos, falamos a sua língua com sotaque estrangeiro, temos o nariz comprido e a pele de outra cor, somos de causar pena.

É só a bondade desse povo que nos permite de viver em seu país, eis porque somos hospedes.
Com o tempo o povo compreendeu que somos também peregrinos, não somos turistas ou empresários enviados por alguém para investir.
Nos damos por conta que a missão é de Deus, é Ele que nos abre caminhos, nos guia e nos acompanha. Se vive a missão porque Deus o quer, não porque nós somos potentes e capazes, e isto nos ajuda a crescer na humildade, nada temos de nos orgulhar.
Experimentamos cada dia que somos mulheres frágeis e limitadas, mas que é tão bonito partilhar a nossa vida com a gente a quem Deus nos enviou.

Chamingerel, uma jovem da Mongólia em um seu testemunho escrevia: “Ao início eu me maravilhava e me perguntava: porque estes missionários estão aqui na Mongólia com 40° abaixo de zero no inverno? Porque vivem conosco? Depois compreendi que é por causa da Boa Notícia. Não chegaram aqui pacotes de livros, mas sim pessoas reais portadoras de Jesus”.

IMG-20211115-WA0010Quero concluir com o que de mais belo aprendi na Mongólia: crer em Deus. Sim, penso que seja este o dom mais preciso que recebi da missão.
As pessoas que se aproximavam da fé me ensinaram a ter aquela fé simples, mas profunda, uma fé que nos leva a um verdadeiro encontro com Deus que te atrai a tal modo, que não se pode mais fazer a menos.

Como Regezdmaa, uma mulher que mesmo com a tempestade de neve se dispunha a caminhar mais de hora para vir até nossa tenda-capela (ger-capela) e partilhar a Palavra de Deus. Surpresa pela sua persistência me permiti de dizer-lhe que nesse caso poderia ficar em casa para evitar todo aquele frio; ao que ela me respondeu: “Como posso renunciar a uma coisa tão linda, como posso renunciar de ouvir e partilhar a Palavra que Deus preparou para nós”?

A Mongólia ensinou-me que o Evangelho é verdadeiramente "Boa Nova", que muda a nossa vida se o deixarmos entrar, que vale a pena dar a vida para que outros possam vibrar com aquele amor que toca o fundo do nosso coração. Por isso, como sublinhou o Papa: «Não podemos silenciar sobre o que vimos e ouvimos» (At 4, 20).

Lucia Bortolomasi é Conselheira na Direção Geral das MC – Publicação, Centro Pastoral Missionário da diocese de Roma.