GARRAFA PET E UM DESAFIO

‘Cobrir a estufa com as garrafas pet era o desafio que tinha em frente’

Por Edite Cobalchini

As Missionárias da Consolata, fundadas pelo Bem Aventurado José Allamano em 1910 estão hoje espalhadas nos Continentes África, América, Europa e Ásia. O Fundador queria que suas missionárias fossem pessoas capazes, não só de fazer o máximo para salvar almas, (na linguagem da época) mas trabalhar para o crescimento integral das pessoas e o desenvolvimento do ambiente. Dizia ainda Allamano: “É preciso fazer as pessoas laboriosas para depois fazê-las cristãs [...] amarão a religião que além das promessas de vida eterna, os faz felizes aqui neste mundo”. (Carta circ. aos missionários do Kenya, 02/10/1910)

Eu, como cada missionaria da Consolata, leva no coração o desejo de colaborar com ações concretas no cuidado da casa comum, salvaguardando a criação e protegendo o ambiente natural que nos rodeia. Evitar o máximo possível, tudo que o polui e trabalhar para o desenvolvimento sustentável do mesmo.

Dia 25 de janeiro de 2018 cheguei do Brasil, na Itália. Depois de algum tempo vi no fundo do quintal, uma estufa velha, abandonada porque tinha se estragado toda a cobertura; percebi também que se utilizava água em garrafas plásticas que depois de vazias iam parar no lixo reciclável ou destinadas ao lixo comum. Pensei então que talvez se poderia fazer algo com as garrafas plásticas e perguntei-me: será que é possível cobrir a estufa com as garrafas pet? Não tinha idéia de como isso poderia ser feito, mas pedi às Irmãs da minha comunidade para não mais descartar as garrafas, mas deixá-las de lado pois gostaria de tentar usá-las num projeto que nem sabia se daria certo. Queria experimentar  fazer alguma coisa na velha estufa.

IMG-20191121-WA0019As Irmãs logo aderiram ao meu pedido e aos poucos as garrafas começaram a amontoar-se. Precisava ainda “criar” o que queria fazer. ‘Cobrir a estufa com as garrafas pet era o desafio que tinha em frente’. Depois de muitas tentativas, em diversos modos, finalmente encontrei um jeito de unir as garrafas, cortando o fundo e encaixando uma dentro da outra de maneiras a formar um tubo (cano). E como firmá-las para formar a cobertura? Coloquei uma tela de arame em cima da estrutura de ferro existente e com lacre de segurança (lacre para malote) comecei a amarrar na tela os tubos feito de garrafas.

Sim, era possível cobrir a estufa com as garrafas pet, foi minha conclusão. Mas seriam necessárias muitíssimas garrafas! Pensei que, por conta disso, levaria de 4 a 5 anos para terminar de cobrir a estufa, mesmo assim iniciei o projeto.

IMG-20191121-WA0003Quando porém, as pessoas dos arredores e cidades vizinhas se deram conta do projeto, se envolveram e começaram a colaborar trazendo muitas, muitas garrafas. Vinham contentes e diziam: “Como está a nossa estufa”? Sentiam-se também eles protagonistas do grande desafio. E assim aquilo que parecia um projeto de longo prazo, em menos de um ano estava pronto. Foram utilizadas 14.000 garrafas pet. Para amarrar as garrafas na rede contei com a ajuda do Sr. Fortunato, funcionário que trabalha conosco.

IMG-20191121-WA0006Terminei a cobertura da estufa no final do ano 2018 e nada plantei pois, na Itália, nesta época do ano é inverno rigoroso.Chegada a primavera preparei a terra e plantei coisas que normalmente não resistem ao frio da Itália: mamão, mandioca, cana de açúcar, batata doce, gengibre, boldo, losna,etc. Agora, no início do inverno dentro da estufa parece uma selva. Está tudo verde, tudo bonito. Este será o primeiro inverno depois que foram plantadas. Resistirão ao frio? É o que me pergunto e que só poderei responder no início da próxima primavera.

Penso que é possível plantar outras hortaliças e que dariam bem, mas é tudo para ser experimentado ainda.Nota gratificante: Uma das pessoas que me ajudou com garrafas, agora está construindo uma estufa semelhante em sua casa.

Edite Cobalchini é missionária da Consolata na Itália.