A formação de catequistas

Irmã Elisabeth Possamai dedicou 37 anos de sua vida na formação de leigos e leigas em Moçambique.

Por Dalmazia Colombo *
Fotos: Arquivo Andare
missionarias_da_consolata_testemunho_Dezembro__2007

Ir. Elisabeth visita comunidade da Paróquia Santana, Maimelane, Inhambane, Moçambique.

Irmã Elisabeth havia celebrado há poucos meses, com grande entusiasmo e gratidão a Deus, o seu Jubileu de Ouro de Profissão Religiosa. Sentia-se muito bem no seu trabalho, apesar dos 73 anos de idade. Pertencia a uma família catarinense de consagrados. O sobrenome Possamai é muito conhecido entre os amigos da Consolata, pois oito filhos foram e são missionários e missionárias nesta Congregação: dois padres e seis irmãs. Dante e Eugênio (já falecidos), Nazarena, missionária na Argentina; Luiza (falecida) que também trabalhou muitos anos na Argentina; Mary Fátima, que atualmente está na Suíça; Luciângela, que foi missionária na Bolívia e agora está na Argentina; Susana, que foi missionária na Libéria e atualmente está no Brasil no serviço da Animação Vocacional e Elizabeth, que estava na Missão em Moçambique há 37 anos.

Irmã Elisabeth era a responsável pelo Centro Catequético de Maimelane, na Província de Inhambane, sul do país. A Igreja africana investe muito neste trabalho, porque catequistas bem preparados são excelentes animadores das comunidades, especialmente as do interior, onde o padre, devido às grandes distâncias, ou a má conservação das estradas ou por outras causas, não pode sempre estar presente para dar assistência. São os catequistas que fazem todo o trabalho de preparação dos catecúmenos para o Batismo e outros sacramentos.

Entusiasmo e serenidade

Irmã Elisabeth chegou a Moçambique em 1970. Uma vida intensa, totalmente posta a serviço do crescimento da fé daquele que já havia se tornado o seu povo. Já antes de partir para a África, havia trabalhado por muitos anos em sala de aula, ensinando muitas crianças e jovens, que com certeza, dela devem lembrar-se com carinho e gratidão. Devem se lembrar da sua capacidade de aproximar as pessoas pelo seu constante sorriso e pela sua grande bondade. Quando foi enviada à missão de Moçambique, lá continuou esse trabalho, de acordo com as necessidades locais. Dedicou muito de si à pastoral, à catequese, pelas quais tinha um carinho e um carisma especial, até que um dia assumiu a coordenação do “Centro Catequético de Maimelane”. Foi justamente no desempenho deste serviço, que o Senhor a chamou para si. Um terrível acidente de carro, na Estrada Nacional, perto da vizinha Missão de Mapinhane, truncou-lhe a vida. Irmã Elisabeth sempre foi uma pessoa alegre, dessas que acreditam e vibram pelo que fazem.

Protagonistas da Formação

A missionária leiga italiana, Caterina Fassio, que teve oportunidade de conviver algum tempo com irmã Elizabeth dá o seu testemunho: “Se em todos os lugares, a organização de Cursos de Atualização é algo empenhativo e difícil, aqui na África, isto se torna quase impossível. Só a experiência e o conhecimento de lugares e pessoas que a irmã Elisabeth tinha conseguido nos seus anos de permanência no país tornou possível tal Projeto: a elaboração de um Programa Completo de Formação de Catequistas”. Conhecimento de lugares e de pessoas, tudo é muito importante e ajuda; mas eu acrescentaria algo mais: a perseverança, o amor, a estima e o respeito que ela tinha pela cultura, pelas tradições do povo, independentemente de sua situação social. Como artista que era, irmã Elisabeth, sabia descobrir a beleza da natureza de maneira surpreendente. Sabia colher as situações difíceis ou alegres da realidade familiar e social e com muito jeito, ajudava as pessoas a se encontrarem. Por isso, conhecendo a realidade dos participantes do Curso, na sua maioria agricultores e com uma família para manter, irmã Elisabeth estruturou a formação com uma programação por etapas mensais, dando assim a possibilidade de alternar estudo e trabalho, empenho na Evangelização e deveres familiares. Além disso, ela começou a valorizar os que já haviam freqüentado o Curso, formando com eles uma Equipe para colaborar com ela, tornando-os assim, protagonistas. Ela reservava para si a parte mais delicada da coordenação: a escuta e a aquisição do material didático necessário. As pessoas se admiravam ao ver o que ela conseguia com aqueles catequistas, no sentido de compromisso evangelizador e crescimento na fé e na vida espiritual.

missionarias_da_consolata_testemunho_Dezembro2__2007

Catequistas em conclusão do curso de formação.

Uma máquina de costura

A sua grande capacidade de escuta e de diálogo e um finíssimo senso de humor ajudavam as pessoas a superar mais rapidamente as dificuldades. Era muito atenta ao que acontecia ao seu redor e estava sempre pronta a dar uma mão para tirar os outros de situações degradantes. Não se sentia constrangida quando era obrigada a fazer algum pedido aos benfeitores das missões. Uma vez chegou a pedir “uma máquina de costura para Filemon”. Filemon era um rapaz que tinha tudo para ser um analfabeto mendicante por toda a sua vida. Com a ajuda da missionária, ele se tornou um costureiro esperto e muito procurado. Irmã Elisabeth, assim descreveu seu primeiro contato com ele: “Quando vi chegar Jorge, um dos meus alunos, com um embrulho nas costas, pensei que ele estivesse trazendo seu irmãozinho de dois anos. Até cheguei a pensar que fosse uma brincadeira quando Jorge me disse que era Filemon e que ele queria freqüentar a catequese para receber o Batismo. Não tive tempo de fazer algum comentário, porque ele deitou aos meus pés aquele doce peso e eu tinha à minha frente um rapazinho com um rosto de bela aparência; mas aquela cabeça estava apoiada sobre um tronco raquítico e pernas atrofiadas. Quase tive um ataque do coração. Enquanto estava para me inclinar sobre aquele montinho de gente, ele, Filemon, sorridente e com a rapidez de um grilo, deu um salto e pulou sobre um banquinho que estava ali perto. Hoje, Filemon, é um excelente costureiro. Por causa de todas as limitações, ele costura apoiado numa mesinha, com uma máquina, que foi adaptada para ele por um carpinteiro do lugar”.

Enganar o estômago

As pessoas que conviveram com irmã Elisabeth são unânimes em afirmar que ela era uma pessoa muito jovial. Ninguém ficava triste ao seu lado. Tinha um caráter inteligente e simples, além de ser muito feliz. No tempo da guerra, não se encontrava quase nada para colocar sobre a mesa nas refeições, os 365 dias do ano. O cardápio se reduzia a um pouco de peixe seco, acompanhado de ervas selvagens, ou folhas de mandioca cozidas. Carne? Nem pensar. No entanto, irmã Elisabeth com sua fantasia artística conseguia transformar com novos visuais o prato costumeiro animando as colegas com brincadeiras que ajudavam a esquecer um pouco a fome. Irmã Cleta, a encarregada de preparar a comida, ficava chateada por não poder preparar aquelas coisas gostosas que ela sabia fazer, se tivesse os ingredientes. Irmã Elizabeth a encorajava, dizendo que aquilo tudo iria passar e que um dia ela voltaria a preparar pratos suculentos.

Missionária para sempre

Irmã Elisabeth cultivava uma profunda espiritualidade, mas não a ostentava. Preferia a simplicidade, virtude que fica bem em qualquer lugar e consegue se relacionar com todos, grandes e pequenos. Numa de suas últimas cartas, endereçada a uma colega missionária que voltara para Itália, expressou a saudade que sentia e o desejo de em breve, poderem se encontrar novamente e acrescentava: “Já começo a sentir o peso dos anos (estava com 73) e sinto que não poderei continuar por muito tempo nesse ritmo de atividades. Todavia, só tenho que agradecer muito ao Senhor que está me conservando a saúde. Farei o possível para colocar todas as minhas forças a serviço desta atividade, que Deus me pede para continuar. Sempre quis trabalhar só por Ele e pelos meus irmãos e irmãs. Quero estar onde Ele me quer; aqui ou em outro lugar. “Tudo faço por Aquele que me chamou e me enviou para ser sua missionária”.

* Dalmazia Colombo, MC é diretora da revista Andare na Itália.
(CC BY 3.0 BR)