MISSIONÁRIAS DA CONSOLATA E O DESAFIO DE PROMOVER A EDUCAÇÃO DOS FILHOS/AS DA MÃE SELVA.

As Missionárias sempre atentas à formação integral da pessoa...

Por Eleusa Socorro Do Carmo Ferreira

Em abril de 1991 as Missionárias da Consolata motivadas pelo próprio carisma Missão-Consolação, assumiram a missão de acompanhar o povo indígena Ye’kwana no Estado Amazonas da Venezuela, Município San Juan de Manapiare, Região Alto Ventuari, área conhecida como território do povo Ye’kwana. Prelazia de Puerto Ayacucho. No mapa da Venezuela eles estão situados no sul do país, divisa com o Brasil. Uma região de difícil acesso, onde se chega por via aérea ou aquática.

4a6193ae-f76f-4207-9e03-8b61edebfdf0Quando as Missionárias da Consolata chegaram em Tencua, sede da Missão no Alto Ventuari, nunca perderam de vista um dos princípios recebido do Fundador o Bem-aventurado José Allamano, que é o cuidado com a dimensão humana dos destinatários. Priorizaram a ‘área da saúde’, facilitando a formação de agentes de saúde local como enfermeiros e microscopistas. ‘A promoção das mulheres’ com corte de costura, tecer macas, etc. e uma grande atenção para a alfabetização e toda a ‘área da educação’, que para os Ye’kwana é um instrumento fundamental na interação com a sociedade não indígena; não mediram também esforços para enfrentar os desafios oriundos da sociedade venezuelana que vive um longo processo de decadência.

7a9a02f9-8c46-44d3-8e53-c5f889def794O fundador da aldeia Tencua, o senhor Horácio Asisa, recebeu as Missionárias da Consolata com a intenção que elas se preocupassem com a educação de seus filhos e netos. Quando as Irmãs chegaram, a educação formal era só até a o sexto ano do ensino fundamental. Pouco a pouco foram abrindo pequenas escolas em todas as aldeias do Alto Ventuari, apoiando os estudantes, moças e rapazes que iam para a zona urbana para continuar os estudos nos internatos salesiano. Ao terminar o ensino médio eles voltavam para suas aldeias como enfermeiros, microscopistas e professores; a função das Irmãs era acompanhá-los com cursos de formação continuada.

Com a crise sócio-política e econômica da Venezuela, os internatos salesianos se fecharam por falta de alimentos. O resultado foi um retrocesso para os povos indígenas daquele país, que já não podiam mandar seus filhos estudarem na cidade, para depois ajudar no desenvolvimento se suas respectivas sociedades. Assim escutei de um líder Ye’kwana preocupado com a situação: “ Um povo sem educação não se desenvolve, ou melhor, será engolido pelo tigre ocidental”. Referindo-se à sociedade majoritária.

Porém, as Missionarias da Consolata que sempre estiveram atentas às necessidades daquele povo, trataram de dar respostas com eles, deixando o protagonismo para eles porque são eles os donos de seu destino. Enfrentaram o desafio e o resultado, depois de um longo processo, mas conseguiram a abertura em Tencua de uma extensão universitária da UPEL-Mácaro (Universidad Pedagógica Experimental Libertador) no segundo semestre de 2018. Esta Universidade é formada por nove Institutos pedagógicos, entre eles está o Mácaro Luís Fermin que foi fundado para formar os professores rurais. Com a emancipação dos povos indígenas, esse Instituto criou a especialidade ‘Educação Intercultural Bilíngue’. A UPEL segue o método construtivista, formando professores pesquisadores capazes de facilitar a solução de conflitos socioeducativos.

325778526_3448733672080129_6868177822669361470_nDia 19 de julho deste ano 2023, o primeiro grupo de licenciados ye’kwana em Educação Intercultural Bilíngue vai receber a colação de grau em Puerto Ayacucho, algo inédito para eles. Em setembro deste ano haverá o ingresso do novo grupo de alunos, na classe de Tencua, que será atendido pelos já licenciados do primeiro grupo.

Com a abertura da extensão universitária em Tencua, a Zona Educativa do Estado Amazonas aprovou a abertura do ensino médio na Escola Unidade Educativa Simon Bolivar de Tencua em 2019. Em julho de 2024 a primeira turma concluirá o ensino médio, aqueles que tiverem vocação para a docência têm a possibilidade de estudar a licenciatura em educação intercultural bilíngue dentro de seu próprio ambiente, sem ter que ir para a cidade.

A Direção do Instituto Mácaro Amazonas, aprovou o ingresso dos novos licenciados ye’kwana no curso de pós-graduação a distância, com a especialidade em Processos Didáticos. Esses pós-graduandos serão os professores universitários da extensão em Tencua.  Com a formação de novos professores universitários está abrindo também a possibilidade de outras especialidades como administração e ambiental desejadas por muitos jovens especialmente os rapazes.

Em 9 de abril deste ano fechou-se o ciclo das Missionarias da Consolata em Tencua e a missão foi entregue à Prelazia de Puerto Ayacucho. Agora é responsabilidade do Bispo Dom Jonny Eduardo Reyes o envio de pessoal para acompanhar o povo Ye’kwana nesse novo ciclo que se abriu com a nossa saída. São os mesmos ye’kwana os gestores das Instituições de Educação e Saúde presentes nas suas aldeias. Por tudo damos graças!

Eleusa Socorro Do Carmo Ferreira é Missionária da Consolata,