O Movimento das Mulheres da Consolata no norte de Moçambique, África.
Por Hedviges Giacomozzi *
Foto: Arquivo MC
Ao celebrar o meu Jubileu de Ouro de Consagração a Deus na vida religiosa como membro da família Consolata, sou muito agradecida a Ele e a todas as pessoas com quem compartilhei vida e trabalho, nas várias experiências de missão vividas ao longo destes 50 anos.
Nasci em Rio dos Cedros, Santa Catarina, numa família de origem italiana. Em 1949 nos mudamos para Rio do Oeste, no mesmo estado. Fomos morar na comunidade rural de nome Angico, assistida pelas Irmãs Catequistas Franciscanas, que trabalhavam no campo da educação e Pastoral. Meu primeiro contato com a Consolata se deu através dos missionários que vinham mensalmente para a celebração da Eucaristia. Através deles conheci também as missionárias. Elas atuavam na escola e na paróquia, com a catequese. Logo nos meus primeiros contatos com as irmãs, me chamou a atenção o testemunho de trabalho e sacrifício delas e a sua proximidade com o povo. Eram muito simples, visitavam as famílias e se interessavam pela vida das pessoas. Elas haviam chegado da Itália havia apenas três anos, e este modo simples de viver granjeava a simpatia, a amizade e o amor do povo. Eu ficava encantada ao ver o grupo de adolescentes e jovens (juvenistas, aspirantes e postulantes), vindas de comunidades e cidades vizinhas atraídas pelo testemunho missionário das irmãs e que queriam ser como elas. Gostava muito de falar com aquelas jovens que me pareciam muito alegres e entusiastas. E o contágio foi trabalhando o meu coração até que, com 15 anos decidi ser, eu também, missionária da Consolata.
O toque da Graça
Durante os anos de formação, o meu grande desejo – o quanto podia entender uma adolescente, era o de viver mais perto de Jesus e poder ajudar especialmente os mais pobres. As irmãs falavam muito da África, de modo especial da Abissínia – hoje Etiópia – de onde, várias delas tiveram que sair por causa da guerra com a Itália, razão pela qual depois, vieram para o Brasil em 1946. Com o passar do tempo e a formação recebida no Instituto, o desejo de entrega total a Deus para a Missão na sua Igreja foi crescendo sempre mais, despertando também a vontade de ir além-fronteiras. Hoje, encontro-me em Nangololo, Moçambique, África, numa paróquia da diocese de Pemba, província de Cabo Delgado. Sinto-me muito bem inserida no trabalho missionário e atuo no campo da educação; acompanho a formação dos alfabetizadores de três Distritos do norte da província e presto minha colaboracão na formação dos professores. Outro trabalho gratificante que estou fazendo atualmente é o da promoção da mulher.
“Mulheres da Consolata”
O povo Makonde entre o qual trabalhamos, distingue-se por uma característica muito forte que é o artesanato. São muito religiosos. Acolheram o cristianismo em 1926 pelo trabalho evangelizador dos missionários monfortinos. Em 1933, os missionários e as missionárias da Consolata continuaram o trabalho de evangelização e promoção humana. A devoção a Nossa Senhora é outra característica marcante da vida deste povo, que expressa este sentimento devocional com a reza comunitária do terço. O grupo de mulheres que todas as tardes se reunia para a oração mariana na igreja de Nangololo, com a minha orientação e da irmã Teresa José de Osti, deu vida a um Movimento Missionário feminino. Aquelas senhoras que já eram ativas, a título pessoal no apostolado do dia a dia, demonstraram muito interesse e entusiasmo diante da proposta de formarem o Movimento. E quando chegou o momento de dar o nome ao grupo, elas não hesitaram: “Movimento das Mulheres da Consolata”. Elas explicaram porque tinham escolhido tal nome: “foi para homenagear as missionárias da Consolata pelo seu Centenário” (1910-2010). O Movimento está se espalhando e as mulheres, que antes se mantinham fechadas no seu grupo étnico, agora frequentam os programas com outras pertencentes a etnias diferentes, tecendo relações de trabalho, participando ativamente das iniciativas pastorais até da diocese.
Movimento Missionário
O Movimento é sustentado por quatro sólidos pilares: a oração pessoal e comunitária, a reza diária do terço, a formação humana e bíblica para descobrir o papel da mulher na Igreja e na sociedade, a organização das atividades do grupo e a evangelização, solidariedade e animação missionária nas comunidades cristãs – a maioria delas, constituídas pelas missionárias da Consolata, das quais elas querem conhecer e aprofundar a espiritualidade. Estas mulheres do Movimento se sentiram fascinadas pelo versículo do Livro de Isaías do qual o Bem-aventurado José Allamano colheu a inspiração para a fundação do Instituto dos Missionários e Missionárias da Consolata: “Anunciarão a minha Glória às nações” (Is 66, 19c). É com esse espírito que o Movimento Mulheres da Consolata está colaborando no anúncio da Boa Notícia aos seus irmãos e irmãs de Nangololo.
Penso que para todo missionário, uma das grandes dificuldades na missão é o aprendizado da língua e da cultura do povo; no nosso caso, a língua e a cultura Makonde. Isto requer um empenho e esforço constantes. O que eu vejo de positivo nisto, é que aqui os animadores, as mulheres e o próprio povo em geral, são os nossos mestres. Eles têm uma paciência imensa em nos ajudar neste sentido e ficam muito felizes quando veem que nos expressamos bem em sua língua materna. Mas, acima das dificuldades e desafios está Jesus que prometeu estar conosco até o fim dos séculos (Mt 28, 20b). A vocação missionária só tem sentido se for vivida com paixão, a mesma paixão que Deus teve pelo seu povo.
O meu Jubileu
Celebrar 50 anos de consagração a Deus na Missão é uma graça imensa, pela qual sou muitíssimo agradecida a Deus e à minha família religiosa missionária. Sinto-me imensamente feliz por esta caminhada que a graça de Deus me permitiu fazer, dando-me a oportunidade de chegar até aqui. Apesar das minhas falhas e limitações, das dificuldades e desafios pelos quais passei, tenho a alegria de afirmar que o ‘sim’ que pronunciei na minha Primeira Profissão, é o mesmo que continuo renovando todos os dias, movida pela abundância das graças de Deus, a carinhosa proteção da Santíssima Consolata e o estímulo do Bem-aventurado Fundador, o padre José Allamano. E é precisamente a profunda comunhão com Deus que dá suporte à vida de consagração a Ele na Missão. Vale a pena por-se a caminho, cada dia, ‘vender tudo’ e ir em busca da pérola preciosa que é Deus e o seu amor por nós; e podermos estar mais disponível para anunciar o Evangelho da vida e vida plena para todos.
