Aqui estou Senhor, faça-se a Tua vontade e não a minha.
Por Lourdes Bonapaz
Aos 42 anos, Ligia Cipriano oficializou seu pedido para entrar no Instituto das Irmãs Missionárias da Consolata. Mas a sua chamada vocacional, diz ela, que começou aos 12 anos quando junto com colegas participava do terço e missa na aldeia de Sepins, Portugal, onde morava com seus pais e irmãos. Essa atração por Jesus a deixava inquieta, contudo a vida continuava normal.
Um Missionário da Consolata que trabalhou em sua Paróquia perguntou quem gostaria de ser Missionário e ela respondeu que sim, tinha 18 anos. Desde então esse desejo foi crescendo e deixando-a inquieta, mas não conseguia desapegar da família, do trabalho, amigos e enfim, o tempo foi passando.
Dedicava parte de seu tempo aos finais de semana como catequista e gostava do que fazia. Ao preparar-se para transmitir os ensinamentos de Jesus às crianças, ela foi crescendo no conhecimento de Jesus e apaixonando-se por Ele, ela mesma não se dava conta do que estava acontecendo, e não partilhou com ninguém. Quando o Missionário da Consolata, Pe. Gianfranco passou na aldeia onde morava, durante a semana missionária e partilhou sobre as missões Ad Gentes, entusiasmou muita gente. Foi a Primeira vez que ela ouviu falar da Consolata e do Padre Allamano. Com o filme “Molokai” o bichinho da missão começou a roer mais e mais ... novamente a resposta à pergunta de quem queria ser Missionário, saiu mais forte e quase impensada. "Eu quero"!
Nessa época teve a oportunidade de conhecer as Missionárias da Consolata na pessoa da irmã Inês Regina que a contagiou com sua alegria e testemunho missionário.
Quando terminou o liceu, a pergunta veio forte: “O que fazer da minha vida”?
Participava dos encontros mensais dos Jovens Missionários da Consolata, em Fátima e dos campos de trabalho; fez uma viagem em 2001, ao SANTUARIO DA CONSOLATA e à Casa onde nasceu o Pai Allamano, aumentou assim seu conhecimento e foi alargando os horizontes e o desejo de um dia partir; a vontade de fazer a experiência Missionária e de uma entrega total a Deus era grande, mas o medo era maior ainda; sentia-se incapaz!
Durante todos esses anos, o convívio e o testemunho dos Missionários e Missionárias a alimentava, animava e não a deixava desistir do ideal missionário: ir ao encontro dos que não conhecem ainda Jesus.
Encontrou muitas dificuldades, mas enfrentou-as sem medo e entrou a fazer parte dos Leigos Missionários da Consolata em 2006; mais alguns anos e Ligia estava partindo para a tão desejada Experiência Missionária em 03 de março de 2010 na Missão do Catrimani, Brasil.
“Este foi o início de uma nova etapa da minha vida e ficará marcado para sempre no meu coração. Quando cheguei ao Catrimani meu coração ficou em paz com o passado de tantas interrogações e nova luz iluminou minha vida e missão. O Contato com o povo fez-me nascer de novo e o tempo de encontro com o Senhor nos momentos de solidão, no silêncio da floresta me fortaleceu e aumentou minha confiança nEle, no Senhor da vida”, afirma Ligia e diz que a Palavra de Deus era seu alimento nos tantos momentos difíceis que encontrou. “Sem os tempos de oração e meditação da Palavra, sei que nunca teria conseguido viver esta experiência tão forte de vida”, afirma ela. “Viver e conviver com o povo Yanomami, foi como voltar aos inícios dos tempos, ver a sintonia e harmonia entre o Homem e a criação; os cuidados que têm com a Mãe Natureza. Ali vi o que é essencial para a vida: a partilha, a comunhão, espírito de família, o amor incondicional, a união na dor e na alegria. Senti-me em sintonia com o povo, com Deus e comigo mesma como nunca antes.”
Tudo isso foi essencial para que Ligia refletisse e tomasse sua grande decisão na vida: CONSAGRAR-SE TOTALMENTE A DEUS NO SERVIÇO DOS MAIS NECESSITADOS.
Foram-lhe de apoio nos momentos difíceis as frases de S. Paulo: "Quando sou fraco é que sou forte" e "Tudo posso naquele que me dá força".
Diz ela que sentiu o verdadeiro encontro com Deus no contato com o povo, no olhar das crianças, na alegria e trabalho das mulheres, na ternura das jovens mães carregando seus filhos no colo. A Mãe Consolata e o Pai Allamano foram-lhe intercessores poderosos durante toda a estadia na Missão. E afirma com todas as letras: “Quando retornei ao meu país, Portugal, depois de dois anos dessa experiência, nada mais voltou a ser igual. Sentia uma felicidade na vida nunca experimentada antes”. E com força deu sua adesão: “aqui estou Senhor, faça-se a Tua vontade e não a minha”.
Dia 31 de outubro de 2012 inicia seu caminho formativo em São Paulo, Brasil, que compreendeu 03 anos de Faculdade de Teologia, 01 ano de Postulantado (formação humana/espiritual). Os 02 anos de Noviciado internacional (formação específica para a vida Religiosa) foram na Itália.
A comunidade do Noviciado era formada por Irmãs e jovens de 09 nacionalidades. Enquanto as jovens dedicavam-se em aprofundar sobre o Carisma, Missão, Vida Comunitária, Oração, Votos Religiosos, aprendiam também a língua italiana, falada em comunidade.
“Devo dizer que foi um tempo muito rico em conhecer novas culturas, novas formas de fazer as coisas. Eu que sempre tive vontade de ir à África, pois, não foi preciso andar tão longe, conheci pessoas que são a verdadeira riqueza do continente africano, minhas colegas e Irmãs. Tive a oportunidade de fazer pastoral, catequese, animação missionária, contato com as pessoas do lugar, aprender novos cantos, novas formas de animar, danças para animar a missa e os encontros. Este tempo de formação no noviciado veio aprofundar o meu desejo de ser toda de Cristo”.
Dia 29 de Janeiro deste, Ligia fez sua Consagração Religiosa a Deus e à missão Ad Gentes perante a comunidade e o Instituto das Irmãs Missionárias da Consolata,seguindo o Carisma do Pai Allamano. Afirma mais uma vez, sentir uma felicidade tão grande, que não pode explicar... ! “Agora – diz ela – a etapa que segue é partir em missão e colocar-me a serviço da Igreja onde for destina. Levo comigo sem dúvida a experiência que mais me marcou na vida: a missão no Catrimani será sempre o meu primeiro amor, onde fiz a experiência mais profunda do encontro com Deus e comigo mesma. Se nos abandonamos em Suas mãos até o impossível se torna possível. Coloco-me em missão como um reflexo da Luz do Senhor, um sorriso grande do Seu amor. Ele é o verdadeiro protagonista da MISSÃO”.
