Sólidas Raízes

 

 Permaneçam unidos, na fé e entre vocês.

 de Desalech Markos Desta*

Meu nome é Desalech Markos Desta, sou de origem etíope. Nasci numa pequena cidade de nome Metheara, em uma família cristã. Meu pai faleceu pouco depois de ter celebrado seu casamento na Igreja Católica. Dentre os muitos ensinamentos que ele nos deixou como herança, e que, sem dúvida, ficou muito impresso no nosso coração de filhos foi este: “permaneçam sempre unidos, na fé e entre vocês”. Muito me impressionava o grande amor que ele nutria pela nossa comunidade cristã - a paróquia; e tenho certeza, de que o seu exemplo de fé e convicção influenciou na minha decisão de consagrar a minha vida a Deus.

Eu sempre fui muito afeiçoada à minha família; por isso, custou-me muito ter que deixá-los para ir estudar na capital Addis Abeba, com as Irmãs Servas dos Pobres. Nesse tempo comecei a sentir o desejo de ir à procura do projeto de vida que Deus tinha para mim. Como boa cristã, participava da celebração eucarística na paróquia e das várias atividades que eram desenvolvidas pelo Grupo de Jovens. A paróquia era dedicada a Nossa Senhora Consolata e todos os anos os missionários e as missionárias celebravam uma solene novena em preparação à sua festa.

Um dia recebi uma revista das missionárias da Consolata. Ela continha uma belíssima explicação do Carisma do Instituto. Senti um grande desejo de conhecer mais de perto aquele Carisma. Comecei a me aproximar das missionárias e a conversar com a que acompanhava os jovens. O modo como ela se relacionava com eles e com as pessoas me inspirava muita confiança. Assim, um dia, confidenciei a ela o meu desejo de conhecer melhor a vida delas, o Instituto. Ela me orientou à irmã responsável pelas jovens em formação; e eu disse a ela que queria ser uma missionária da Consolata. Ela me ouviu, mas disse que eu era ainda muito jovem. Porém, deu-me alguns livros que contavam a história de algumas missionárias da Consolata que tinham trabalhado na África. Não fiquei satisfeita. Aquela frase: “você é ainda muito jovem” foi como um balde de água fria que impactou o meu coração. Propus-me de não pensar mais naquilo... Quando terminei os estudos, procurei outros cursos, para me manter ocupada. Depois voltei para a minha família.

 Deus é persistente

Não passou muito tempo, recebi uma mensagem da irmã responsável pela formação das jovens e ela me convidava a participar de um encontro, um fim de semana, que se chamava: “Vem e vê”. Fiquei impressionada, pelo fato de ela não ter-me esquecido, dado que já se passara um ano e meio do nosso primeiro encontro. Decidi aceitar e fui. E que surpresa: tudo aquilo que eu me esforçava para esquecer, reavivou-se dentro de mim, de uma forma incrível. Porém, fiquei um pouco confusa. O projeto da minha família sobre mim, sendo eu a filha mais velha, em relação aos meus irmãos era diferente. Comecei a sentir que teria sido muito difícil sair de casa; e assim que souberam da minha decisão, todos começaram a ir contra. Entre o que eu queria e o que eles queriam, tinha algo de confuso. Já não sabia o que fazer. Mas, ao mesmo tempo, sentia que era o Senhor que me chamava, convidando-me a relativizar uma porção de coisas, mesmo boas, e segui-lo com firmeza e decisão.

Assim, decidi e fui para a capital Addis Abeba, para iniciar, com outras cinco jovens o caminho de discernimento vocacional. Ao término deste fui para outro país, o Quênia para as etapas do postulado e do noviciado.

 Tempo de mergulho

????????????????????????????????????

Foram três anos de muita graça, durante os quais minha fé se robusteceu, graças a ajuda também das minhas colegas de grupo, do povo, mas, sobretudo, graças ao testemunho das missionárias e missionários da Consolata. Tudo me levava a pensar seriamente no tipo de vida que estava para assumir. À medida em que ia caminhando, as coisas iam ficando mais claras e eu também ia amadurecendo e entendendo um pouco mais o projeto da Missão. Depois de ter emitido os primeiros votos, voltei para a Etiópia para a minha primeira experiência apostólica numa missão; ao término da qual fui destinada ao Brasil, para a etapa dos estudos teológico-pastorais. Fiquei contente, mas ao mesmo tempo apreensiva, sobretudo, porque deveria enfrentar novidades nunca encontradas. Mas, fiz um grande ato de fé e me abandonei nas mãos de Deus.

 Um país acolhedor

Devo dizer, porém, que a experiência de quatro anos no Brasil foi muito positiva. Éramos um grupo de sete junioristas, de sete nacionalidades diferentes, provenientes de três continentes; porém, unidas pelo mesmo ideal: seguir Jesus e dedicar a nossa vida para o anúncio do seu Reino, como Missionárias da Consolata. Foram quatro anos muito ricos de aprendizado cultural, na vida comunitária e na vivência fraterna e na ação apostólica. E finalmente, chegou o dia de recebemos a tão esperada notícia.

A Guiné Bissau me esperava como minha primeira missão. Foi um dia de grande alegria para todas. Na Guiné Bissau, onde me encontro hoje, encontrei um povo simples e acolhedor. A minha primeira missão foi em Bubaque, uma das numerosas Ilhas do Arquipélago dos Bijagós. Porém, atualmente estou em Empada, a primeira comunidade, iniciada quando as Missionárias da Consolata chegaram ao país. Hoje, com a ajuda de Deus, sinto que estou mais forte e nutro uma grande esperança de poder continuar com alegria e entusiasmo este meu caminho missionário, sabendo que estou sendo apenas um instrumento nas mãos de Deus e do Espírito Santo, os verdadeiros protagonistas da Missão.

 *Desalech Markos Desta, MC, natural da Etiópia e atualmente na Guiné Bissau.
EtiquetasDestaque