A Semana Santa, chamada também "Semana Maior"

Páscoa é vida, é ressurreição, é renovação dos nossos compromissos com Deus. Tudo clama pela vida, tudo quer viver. Viver é o grito de toda natureza.

Por Rosa Clara Franzoi

Iniciamos a Semana Santa com o Domingo de Ramos. Com ramos de oliveira ou de palmeira nas mãos, nós também cantamos “Hosana ao Filho de Davi” (Mt 21,9), como fizeram os habitantes de Jerusalém, acolhendo Jesus que entrou na cidade, montado num jumentinho: “Bendito o que vem em nome do Senhor”. Foi uma entrada solene, triunfal, organizada pelo povo simples que acreditava e acompanhava aquele Homem que pelas estradas da Galileia pregava com sabedoria e doçura, e curava com poder. Mal sabiam eles que alguns dias depois, outros gritos seriam ouvidos pelas ruas de Jerusalém; não mais gritos de alegria e de entusiasmo, mas gritos de ódio e de condenação.

Certamente, muitos dos que aclamavam Jesus, não o faziam por convicção, mas por influência da massa humana, como acontece ainda hoje; por isso mesmo, dias depois eles estarão no número dos que pedirão a morte de Jesus.

No Domingo de Ramos, Cristo chega triunfante, mas cheio de humildade. Vem selar uma aliança de amor com a humanidade. Ao participarmos da celebração de Ramos, somos convidados a entrar com Jesus Cristo na cidade santa e acompanharmos passo a passo todo o desenrolar de sua entrega total pela Salvação da humanidade.

semana-santaSegunda-feira Santa: “Maria Madalena fez isto em vista da minha sepultura” (Jo 12,7).
O Evangelho de João descreve os últimos momentos de Jesus com seus amigos e discípulos, na casa de Marta, Maria e Lázaro. Junto aos que o amam, ele encontra momentos de conforto e concentra forças para a luta decisiva.

“A tarefa fundamental da Igreja de todos os tempos, e de modo especial do nosso, é a de dirigir o olhar do ser humano e endereçar a consciência e a experiência de toda a humanidade para o mistério de Cristo, além de ajudar todos os seres humanos a ter familiaridade com a profundidade da redenção que se realiza em Cristo Jesus”. (Carta Encíclica do Papa S. João Paulo II – O Redentor do Homem)

Terça-feira Santa: “Eu te farei Luz das Nações” (Is 49, 6). No Antigo Testamento com frequência se retoma o simbolismo da luz para indicar a presença de Deus, ou para anunciar os tempos messiânicos.

“Eu, o Senhor, te chamei para seres a luz para as nações, para abrires os olhos dos cegos e tirares do cárcere os prisioneiros” (cf. Is 42,6). No Novo Testamento, o velho Simeão se alegra em Deus porque seus olhos viram a salvação, preparada para todos os povos, luz para iluminar as nações e guia de Israel (Lc 2, 30-32). O próprio Jesus se apresenta: “Eu sou a Luz do mundo” (Jo 8, 12) e indica que também nós o devamos ser (cfr. Mt 5, 14).

Quarta-feira Santa: A liturgia da Quarta-feira Santa, põe em evidência a traição de Judas.
A infidelidade revela duplo elemento da personalidade, que pode nascer da ingratidão, da inveja, do ódio, da aversão. No Jardim das Oliveiras, quando Judas beijou Jesus, o Mestre mesmo traído, o chama de amigo (cfr. Mt 26, 50). Trair a amizade é pisar nos valores fundamentais do ser humano. O verdadeiro discípulo de Jesus não se preocupa apenas em não trair o Mestre; procura amá-lo com toda a intensidade e entrar em profunda comunhão com ele.

Tríduo Pascal
Quinta-feira Santa
O Tríduo Pascal começa com a celebração da Ceia do Senhor, muito importante porque fazemos memória daquilo que Jesus realizou com os seus amigos: a Instituição da Eucaristia. “Bendito seja Deus, este é o meu corpo que será entregue por vós; este é o meu sangue que será derramado por vós”.

Nesse momento, Jesus deixa sua grande herança espiritual para a Semana Santa e por consequência para toda a Igreja. Não se pode falar em espiritualidade cristã sem se falar de Eucaristia. Ao fim da ceia, Jesus tira o seu manto, cinge-se com uma toalha e lava os pés dos discípulos, seus amigos. Isto se chama serviço. Este ato nos recorda que nós não podemos participar da Igreja se não servimos, pois a Eucaristia como serviço é a melhor prova de amor. Na Quinta-feira Santa o presidente da celebração vai repetir este gesto de Jesus, lavando os pés de algumas pessoas. Com isso, ele convida a comunidade paroquial ao mesmo gesto, para que todos nós possamos viver profundamente essa realidade do abaixar-se e assim ver a grandeza da força do ser humano...

Após a Celebração, inicia-se a adoração – Jesus é colocado num altar lateral e os fiéis ficam em oração, acompanhando a prisão de Jesus, a sua flagelação, a coroação de espinhos e a sua condenação. A grande chamada desse dia: Jesus se entrega, abraça a morte e morte humilhante numa cruz, pelo meu, pelo seu, pelo nosso amor e pagar pelos nossos e pelos pecados da humanidade.

Sexta-feira Santa
Às três horas da tarde, em todas as Igrejas, há a Celebração da Paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo, que é uma celebração litúrgica organizada para darmos um profundo mergulho nas dores de Jesus, quando ele é abandonado por seus amigos, negado, traído e entrega a sua vida por nós. É um dia para mergulharmos na nossa humanidade. Quais cruzes nós carregamos? Todos nós as temos. Todo ser humano tem a suas dores. É importante entender que a grande missão pedagógica que Jesus nos dá é saber suportar as nossas cruzes, as nossas dores. No momento em que Jesus entrega o seu espírito todo mundo fica em silêncio e se ajoelha, em contrição. Aqui há todo um simbolismo. Nesse momento, o gênero humano se dobra diante do grande mistério do Santo que não tinha pecado, mas que assumiu os pecados da humanidade.

Sábado Santo – Vigília Pascal
No sábado de manhã não há movimentos litúrgicos. É um dia de recolhimento para se preparar a grande festa da noite da vigília pascal – que nós chamamos a Mãe de todas as Celebrações.
Naquele momento, nós celebramos a vitória de Jesus Cristo sobre a morte. É uma celebração muito intensa, muito longa. Nós fazemos toda uma recapitulação da Palavra de Deus desde a libertação do povo de Israel, no Êxodo, até a vitória de Jesus sobre os grilhões da morte. A vigília encerra todo o Tríduo e abre a perspectiva para a vida nova. Nesta noite se canta o Aleluia; ou seja, que o Cristo vitorioso é o Senhor, o mestre, o Salvador. Canta-se também o Glória. É uma celebração muito rica. Aí nós encerramos o Tríduo Pascal e começamos então a Páscoa Cristã; o momento da alegria, da vitória, da vida nova. Por que passamos 40 dias nos preparando com oração, penitência, jejum? Para celebrar bem esse novo nascimento, essa nova Páscoa, esse novo encontro com o Cristo vencedor. A espiritualidade da Semana Santa é, portanto, centrada na pessoa de Jesus de Nazaré. Sem Jesus não há Semana Santa. É preciso que tenhamos essa consciência para vivenciar bem este momento e, assim, entendermos mais a nossa fé.

PÁSCOA, CRISTO RESSUSCITOU, ALELUIA!
Os fiéis cantam nas Igrejas:
“Cristo, ressuscitou, Aleluia! Venceu a morte com amor! Tendo vencido a morte o Senhor ficará para sempre entre nós, para manter viva a chama do amor , que reside em cada cristão a caminho do Pai”. (Lindeberg Pires)

Páscoa é tempo de alegria, de reflexão, mais do que de chocolate. Se acompanhamos com seriedade, fé e devoção toda a caminhada que Jesus fez, desde a sua subida a Jerusalém, sua prisão e sua caminhada até o Calvário; se entendemos que era preciso que tudo aquilo acontecesse a Jesus, para a realização do Plano Salvador para redimir a Humanidade pecadora, então entenderemos que a Páscoa era necessária. Com sua ressurreição Jesus venceu o pecado e a morte. Quando todos, atônitos diante do que viam aos seus olhos, todos começaram a pensar decepcionados: Tudo acabou. Jesus é retirado da cruz por José de Arimateia e é sepultado. O que mais se poderia esperar?

Mas, não. Foi aí que tudo começou. “Por que procurais entre os mortos aquele que vive? Jesus não está mais aqui, ELE RESSUSCITOU”. Foi assim que o Anjo de Deus disse às mulheres que foram ao túmulo para procurá-lo (cfr. Mt 28, 5-7)

Portanto, Páscoa é vida, é ressurreição, é renovação dos nossos compromissos com Deus. Tudo clama pela vida, tudo quer viver. Viver é o grito de toda natureza. Nada é feito para a morte, tudo é feito para a vida. Se um ser morre e desaparece, é para que o outro ser tenha vida, e assim a vida continua e não tem fim.

Somos feitos para viver. Viver é o grito de todo ser humano. Embora a gente veja pessoas cansadas, caindo sob o peso da vida, pessoas maldizendo a vida, temos que gritar: Viva a VIDA! Vale a pena Viver!

Quem abra seu coração sente um mar de vida passar pelos ares, um mar de vida que vem de outros corações que amam. Só não ama a vida só quem está fechado em si mesmo, que pensa ser o centro do mundo.

Mas, lembremos sempre: o centro do mundo é o Mestre Jesus, que padeceu, morreu e que ressuscitou porque tem um infinito amor para cada um de nós.

Celebrar a Páscoa é passar do pessimismo para o otimismo; do olhar triste para um olhar alegria e confiante; da palavra destruidora, para uma palavra cheia de amor e esperança. É passar do mal para o bem, do egoísmo para o amor, da escravidão do pecado para a liberdade dos filhos de Deus.

Rosa Clara Franzoi, MC, é Animadora Missionária em São Paulo, SP.