Quando os nossos sonhos somam-se aos sonhos de Deus

Assim como Deus mudou os planos de Maria, a mãe de Jesus, e de tantos outros e outras, mudou também os meus, propondo-me um outro chamado.

Por Maria Schmitz

Muitas vezes achamos que os sonhos são meras utopias; mas quando eles se somam aos sonhos de Deus, como aconteceu comigo, por exemplo, aos poucos eles vão se tornando reais, entusiasmantes e fecundos. Sou Maria Schmitz, originária de Rio do Oeste-SC. Desde o meu primeiro chamado vocacional, quando ainda muito jovem, algo já me indicava o rumo da Missão. E da mesma forma como Deus mudou os planos de Maria, a mãe de Jesus e de tantos outros e outras, mudou também os meus, propondo-me um chamado de consagração a Ele, no Instituto das Missionárias da Consolata, que tem como finalidade a Missão Ad Gentes. A partir de então, iniciava para mim uma caminhada rumo à meta; e mesmo, sem entender tudo, eu já começava a me sentir ‘escolhida’. Porém, para seguir essa meta eu precisava deixar cair, aos poucos, as barreiras que limitavam as fronteiras: a minha família, os amigos, amigas, a minha cidade e por fim, até o meu país.

O caminho da Formação rumo à Missão
Festa J. Allamano 240O projeto Missionário exige uma formação específica, que todo candidato/a tem que abraçar e aderir com muita coragem e dedicação. Assim foi também para mim. Após um período de formação no Instituto das Missionárias da Consolata, onde fui acolhida, amada e formada, senti-me cativada por Jesus Missionário, razão pela qual tudo deixei para colaborar com Ele na obra da Missão. Com muita fé e confiança, motivada pelo carisma do Bem-aventurado fundador, o Padre José Allamano e o modelo de vida da Mãe Consolata, lancei-me em direção à meta, não limitando mais espaço e tempo, levada por uma decisão, assumida livre e conscientemente pela causa do Reino. Eu estava disposta a ir, sobretudo, nos lugares onde muitos ainda não conheciam Jesus Cristo, como rezam as regras do Instituto.

Assim, terminado o período da formação, e após dez anos de trabalho missionário no Brasil, o Senhor me chamou novamente, e através das minhas superioras fui destinada às terras moçambicanas. Estava eu, então, realizando aquele sonho de ultrapassar as fronteiras do meu país, sonho que me acompanhou desde o início. Parti feliz, indo ao encontro das crianças, dos jovens e dos adultos não evangelizados. Ali eu iniciei a minha experiência missionária fora da minha pátria, com irmãos e irmãs de outras raças e culturas, colaborando com a Igreja local na formação de catequistas e líderes de comunidades.

Uma mediação do amor do Pai
Ir. maria Schmitz com adolescentes e jovensÉ inevitável, que ao iniciar algo novo, a gente se sinta desafiada pelas realidades diferentes que vai encontrando. Para mim, o maior desafio na missão foi o estudo, a compreensão e o aprendizado da língua local. Também em Moçambique fala-se o português, cada grupo tem o seu modo de falar e se a gente não se esforça para entendê-los, perde-se muito... A linguagem é tudo, pois é através dela, que se entra em diálogo com as pessoas, estabelecendo uma empatia que facilita o conhecimento, a beleza e riqueza da cultura e o reconhecimento da presença amorosa do Pai que já está naquele lugar e os ama com uma ternura de mãe; mas que às vezes precisa do anúncio explícito para conhecê-lo melhor e viver seus ensinamentos. O meu primeiro sentimento ao pisar o solo moçambicano, foi o de me esforçar o máximo, para ser no meio daquele povo, através do anúncio da Boa Nova, uma presença fraterna e uma mediação do amor do Pai. O primeiro passo foi o de começar a criar uma empatia entre eu e eles. Aos poucos, laços recíprocos foram acontecendo com a aproximação, sem preconceitos, com contatos fraternos, sentando com eles, comendo com eles, trabalhando com eles e convivendo com eles. E isso não é pouca coisa, porque significa entrar numa relação humana de vida que facilita a aproximação ao divino, à manifestação da presença de um Deus que quer revelar-se a cada um, a cada uma, porque nos quer uma família de irmãos e irmãs. Foram anos maravilhosos durante os quais, se eu pude dar alguma coisa, posso dizer que recebo muito mais, em termos de aprendizado para a minha vida.

Jovens inquietos e em busca...
Desde o início da minha missão em Moçambique, embora satisfeita com o que fazia, uma luzinha me acompanhava indicando-me algo diferente. Eu via a urgência de um trabalho com a juventude. Eu sentia o desejo de ser um instrumento de ajuda aos jovens, inquietos e em busca de algo ou alguém que respondesse às suas muitas perguntas e inquietações. Comecei então, a trabalhar na Pastoral Vocacional Missionária, iniciando na Diocese de Lichinga, depois Nampula, Maputo, Inhambane... Por onde passei o Senhor me ajudou a semear a sua palavra provocadora de vida.
É desafiador, mas é também gratificante acompanhar o processo de vidas que levam ao encontro do projeto que Deus tem para cada pessoa; o projeto de uma casa construída sobre a rocha, que garanta um futuro resolvido. Hoje sinto a alegria de ver, no coração e na vida de muitos/as jovens a semente da Palavra que vai germinando, crescendo e dando frutos, nos diferentes estados de vida: matrimonial, sacerdotal, religiosa, missionária, e de leigos comprometidos pelo Reino no serviço da Igreja local e na sociedade.

Provocação
E você jovem! Já tem o seu projeto de vida? Ter um projeto de vida, quando se é jovem, ajude muito a ir descobrindo por quais caminhos o Senhor quer que a gente ande, para produzir os frutos, que na sua infinita sabedoria, ele espera de nós. Não se diz que: VOCAÇÃO ACERTADA, VIDA FELIZ? E é na reflexão e no silêncio, que se encontra o segredo da felicidade, como também eu o encontrei e continuo encontrando.
Caro/a jovem! Dê uma olhadela no seu coração e veja se o que lhe está faltando não é a coragem de fazer a experiência de um sério encontro com Jesus Cristo, a experiência de provar a alegria de ser amado/a por ele. Tenho a certeza que, como consequência, você começará a ver a vida com outros olhos e o seu futuro também. E “não tenha medo”, diz o papa Francisco, porque qualquer descoberta que você venha a fazer, Ele estará com você. Foi ele mesmo que disse ao profeta Isaías, ao lhe conferir a vocação de profeta: “Não tenha medo. Se tiveres que atravessar água e fogo nada te fará mal, pois eu estou contigo; eu permuto reinos por ti, entrego nações em troca, porque tu és precioso aos meus olhos” (Is 43,1-7).
E não deixe de acolher e refletir também na bem-aventurança proferida pelo Bem-aventurado José Allamano, que é a mesma de Jesus: “Felizes aqueles que tem a coragem de deixar tudo, para anunciar o Evangelho aos que ainda não o conhecem”.

Maria Schmitz, brasileira, é Irmã da Consolata Missionária em Moçambique.