IRMÃS MISSIONÁRIAS DA CONSOLATA - 25 ANOS NA GUINÉ BISSAU

Em 1992 o Instituto das Irmãs Missionárias da Consolata teve a alegria de abrir uma nova missão

Por Maria de Lourdes Pereira

17362026_1513690115309025_216916232562256176_nA Guiné Bissau fica localizada na Costa Ocidental da Áfricae faz fronteira com o Senegal ao Norte e ao Sul com a Guiné Conacri e com o oceano Atlântico. Faz parte da Guine Bissau o Arquipélago dos Bijagós formado por mais de 80 ilhas, entre elas temos a nossa presença na ilha de Bubaque desde 2000 onde atuamos em algumas ilhas vizinhas onde há população. A Guiné Bissau foi colonizada pelos portugueses em 1446 e os colonizadores se instalaram em feitorias para a realização do tráfico dos escravos com a população nativa. Somente no dia 24 de Setembro de 1974 a Guiné Bissau conquistou a independência.

 Com uma população de cerca de 1,6 milhões de habitantes a Guiné Bissau é um dos países mais pobres do mundo, ocupando em 2012 a 176° posição entre os 187 países. Situação que se reflete na evolução pouca significativa dos setores de saúde, educação, produção e no acesso à energia e à água potável. A economia do país é pouco desenvolvida. A agricultura se baseia no cultivo da castanha do caju, arroz, mangas, etc. A pesca é outro elemento importante para a economia nacional e o auto-sustento da população. O país apresenta vários problemas sócio-econômicos possui um dos piores índices de desenvolvimento humano (IDH) do planeta. A maioria da população vive abaixo da linha da pobreza com menos de um dólar por dia e a expectativa de vida é uma das menores do mundo. O bem estar das comunidades e das famílias depende inteiramente das mulheres e, mesmo assim, seus direitos e necessidades são negligenciados. Mulheres e meninas têm acesso limitado à educação, saúde e justiça, são vitimas de violência sexual, mutilação genital, da exploração, do casamento forçado e da gravidez na adolescência, alertando, que “a incidência de mulheres que vivem com HIV/AIDS e as taxas de mortalidade materna na guiné Bissau estão entre as piores do mundo”.

 A população da Guiné Bissau comporta uma diversidade de etnia, localizadas em zonas específicas bem marcadas ao longo da sua História e de acordo com, as condições geográficas determinadas pelas guerras que motivaram a fuga do interior para áreas mais protegidas. Daí surgiu mais de 30 etnias negras em todo território com áreas próprias de fixação com línguas e religião diferentes.

 Religião: O Islamismo, cerca de 50%, a religião tradicional 45%, Católicos e outras religiões cristas de 5 a 8% da População. O Islã foi trazido à Guiné Bissau por comerciantes que vinham das regiões de Marrocos e Argélia e na África Ocidental tornou-se a religião da classe mais alta, mas as pessoas simples e comuns preferiam as suas crenças tradicionais. Ao longo dos séculos os governantes tentavam combinar o Islã com as tradições locais chegando até lançar guerras santas contra os nãos crentes. Daí a grande importância e dominação pelo Islã na Guiné Bissau. Na atualidade os muçulmanos são fortes na sociedade guineense, porém há respeito e boa convivência entre cristãos e as religiões tradicionais. Estas, antes da chegada do islã e o cristianismo prevaleciam em toda a África Ocidental, incluindo a Guiné Bissau. Hoje é difícil traçar linhas claras entre os valores de cada uma. Sabe-se que quase todas as religiões tradicionais são animistas, baseiam-se na atribuição da vida a objetos naturais, outras aceitam a existência de uma criatura suprema ou um criador. Acreditam no “Irã”, espírito que pode ser bom ou espírito mal fazendo deles um povo com muitas crenças do medo. Outro aspecto importante das religiões tradicionais situa-se no culto dos antepassados, nas variadas cerimonias dos mortos, feitiços, etc. Afirmam que a terra pertence aos antepassados e por esta razão não pode ser vendida.

thumbnail_20170625_110853 As manifestações culturais da população da Guiné Bissau possuem características nas diferentes tribos, religião, usos e costumes da maneira de viver de cada grupo. Na música e na dança são também evidentes as capacidades dos guineenses. Com ou sem tambores, matracas, ferros, apitos e palmas, as danças guineenses integram-se nos rituais interpretados (na forma, nos gestos e na cor). As circunstâncias culturais do calendário a cumprir pelas diferentes tribos: no fanado (iniciação), no casamento, nos rituais fúnebres e nas festas agrárias. O carnaval na Guiné Bissau é vivido com intensidade e alegria. São dias de festas, de convívio e de apresentação da cultura de cada etnia com danças próprias, máscaras artísticas, trajes próprios e alimentação preparada a seu modo. É também dias de muitas confusões pela quantidade de gente que saem nas ruas ou aldeias que assubiam, gritam, assustam, tocam tambores e dançam. O carnaval é ainda um dia de possibilidades de fazer tudo por todos.

 O cristianismo se deu por influência européia onde guerras santas começaram a orientar-se com mais intensidade contra os europeus do que contra os africanos “infiéis”. Hoje os cristãos estão presentes em varias paróquias, comunidades e aldeias, onde também além da presença da Evangelização pelos missionários estrangeiros eles fazem um importantíssimo trabalho social, especialmente na área da educação e da saúde.

40 ANOS DA CRIAÇÃO DA DIOCESE DE BISSAU.

Foi o Beato Paulo VI que, no dia 21 de março de 1977, elevou a então Prefeitura Apostólica à categoria de Diocese nomeando seu primeiro Bispo, o nosso querido D. Settimio Arturo Ferrazzeta, o qual escolheu um lema episcopal que continua sendo citado até mesmo nos meios políticos e social. “A verdade vos libertara” (Jo 8,32). Os missionários presentes na Guiné Bissau naquela ocasião tão significativa e as comunidades cristãs já existentes acolheram a criação da Diocese de BISSAU e a nomeação de D. Settimio como um precioso dom do Senhor, um sinal do amor que o Papa cultivou pela África e um seu apelo: “vós podeis e deveis ter um cristianismo africano”.

thumbnail_Celebração eucaristica Padres e D.Pedro Zilli bispo de BafatáNo correr dos anos a Igreja da Guiné Bissau tem se beneficiado de tantos presentes do Senhor: Dom José Câmnata Na Bissign, segundo Bispo de Bissau, a Diocese de Bafatá, com Dom Pedro Zilli desde 2001, Dom José Lampra Cá auxiliar da diocese de Bissau, mais missionários e missionarias vindos de outras terras, mais missões, sacerdotes diocesanos e consagradas guineenses, leigos consagrados, catequistas, famílias e tantos movimentos pastorais... etc.

Celebramos, neste ano 2017, os 40 anos da Diocese de Bissau e para melhor vivê-los pensou-se num Sínodo Diocesano. O sínodo teve como tema a “Nova Evangelização”, ocasião favorável para a família diocesana rever criticamente o estado do seu “ser cristão” e a sua presença de testemunho da proximidade do Reino de Deus.

NOSSA PRESENÇA MISSIONÁRIA EM EMPADA, PRIMEIRA MISSÃO.

Em 1992 o Instituto das Irmãs Missionárias da Consolata teve a alegria de abrir uma nova missão ou presença na África ocidental e precisamente na Guiné Bissau. No dia 29 de fevereiro do mesmo ano chegaram a Bissau as primeiras 4 missionarias da Consolata: Ir Emma Casali, italiana, Ir Ana Paula Foletto e Ir Ortência Antunes da Silva, brasileiras e Ir. Adriana Medina Medina, Colombiana.

19437504_1564397096911933_8555109133995966876_nAo desembarcarem no aeroporto da capital, foram recebidas com carinho pelo então Bispo D. Settimio Arturo Ferrazeta e seus colaboradores. As quatro missionárias permaneceram em Bissau, capital, alguns meses para o estudo da língua e da cultura. Visitaram todas as missões da única diocese existente, naquela data na Guiné Bissau.

No dia 02 de abril foi lançada a primeira pedra da casa provisória das irmãs e no dia 04 de Agosto as irmãs chegaram ao chão da missão de Empada. Foram acolhidas com grande alegria e entusiasmo por toda população: mulçumanos, da etnia biafada, os de religião tradicional, evangélicos e alguns cristãos católicos que havia ali do tempo dos portugueses.

No dia 09 de Agosto durante uma solene celebrarão o Bispo da Diocese D. Settimio Ferrazzeta apresenta oficialmente ao povo as quatro Missionárias da Consolata. Todo povo inclusive a comunidade mulçumana, recebeu-as com amor e grande respeito.

Nos primeiros tempos as irmãs se empenharam na visita às famílias com o objetivo de conhecer o povo e a realidade missionária que lhes fora confiada em Empada. Depois, conforme o convite das tabancas (aldeias) as irmãs visitaram e marcaram presença nos encontros com os responsáveis das mesmas.

3No final do mês de Outubro do mesmo ano iniciaram o seu trabalho missionário com uma semana de formação para 10 cristãos de boa vontade que se tornaram os seus fiéis e generosos colaboradores na Evangelização, seja na sede como nas tabancas.

No dia 04 de Abril de 1997 celebram-se em Empada 15 batismos e 10 matrimônios cristãos. As irmãs colhem com alegria e gratidão a Deus estes primeiros frutos do seu trabalho missionário.

Em 1994 as irmãs assumem algumas atividades na aldeia SOS, onde trabalharam por alguns anos e, atualmente já não estamos mais presentes.

Em 2000 assumem na ilha de Bubaque, uma nova missão, desafiante e encantadora, mas exigindo das irmãs muita coragem e desprendimento para se lançarem no mar com freqüência, enfrentando os perigos das canoas frágeis, para socorrer e visitar o povo carente das diversas ilhas vizinhas no Arquipélago dos Bijagós.

Em 2006 abriu-se uma nova missão em Bôr, Bissau. Espaço de acolhida das irmãs das missões do interior, sede da Delegação e muito trabalho pastoral na paroquia, na evangelização de centenas de jovens, crianças e famílias que todos os dias se apresentam para iniciar o caminho cristão.

Hoje, as Missionárias da Consolata cantam o magnificat, agradecem e louvam o Senhor pelos 25 anos de presença na Guiné Bissau.

Foram tantas as pessoas que vieram a conhecer Jesus, a Consolata e o bem aventurado José Allamano e que juntos navegam conosco na barca do Instituto. Foram várias Missionárias da Consolata que atuaram e atuam nesta terra de missão, provenientes de diferentes países e Continentes: Itália, Portugal, Brasil, Colômbia, Argentina, Moçambique kenya, Tanzânia, Etiópia. Duas delas já passaram para outra vida. Ir. Margarida Benedetti e Ir. Floralda Esteban Palencia.

17240590_2006032066290837_4644172159563558517_oCom todos os habitantes da Guiné Bissau as Missionárias da Consolata, agora presentes, sonham um futuro melhor para este povo tão sofrido e humilhado onde possa brotar a paz, fruto de uma boa educação, saúde, condição digna de vida. As comunidades cristãs cantam com frequência o canto que brotou da experiência do tempo da guerra da libertarão:

Libertaçon, Libertaçon pa tudu, tudu povu povu di Guiné.(bis) “

  1. Si no misti amizade pa no djunta no corçon,/ si no misti unidadi pa no djunta tudu mon. Oh! Oh! Povu di Guinè. (bis),
  2. África no terra, terra di amor/ África na mundu, terra di balur. África no mame, mame di amor. África na mundu, sperança i ardor. Oh! Oh! Povu de Guiné....

 Traduzindo:“Libertação, libertação para todo povo da Guiné Bissau. (bis)

  1. Se queremos amizade/ precisamos unir nossos corações, se queremos unidade temos que nos unir na ação. Oh! Ho! Povo de Guiné Bissau (bis).
  2. A África é nossa terra, terra de amor/ África é nosso mundo, terra de valor. África nossa mãe, mãe de amor. África nosso mundo de esperança e ardor. Oh! Ho! Povo de Guiné (bis)
 Maria de Lourdes Pereira é Missionária da Consolata, na Guiné Bissau.