OUSADIA MISSIONÁRIA

Duas missionárias santas com horizontes comuns e um carisma sempre vivo

Por Anair Voltolini

Duas missionárias santas com horizontes comuns e um carisma sempre vivo.
No mês de maio ocorreu o aniversário de beatificação das duas Missionárias da Consolata: Irmã Irene Stefani e Irmã Leonella Sgorbati. No dia 23 celebraremos o quarto ano do reconhecimento pela Igreja, da santidade de vida de Irmã Irene, em Nyeri, Kenya, e dia 26, dois anos da beatificação em Piacenza, Italia, de Irmã Leonella.

55628894_10218146290066152_2897598655454248960_nAs duas foram beatificadas no mês de maio, mês em que veneramos em modo especial a Virgem Maria, nossa Padroeira e terníssima Mãe, sob o título de Consolata. Feliz coincidência?!

Irene Stefani viveu no início do século 20 – faleceu no dia 31 de outubro de 1930. Leonella viveu na segunda metade do século, e foi martirizada no dia 17 de setembro de 2006. Entre a morte de uma e da outra decorreram quase cem anos.

Os valores característicos da espiritualidade e do carisma transmitidos pelo Fundador, José Allamano, com tanto afeto paterno e com tanta firmeza e autoridade que lhe vinha de Deus, foram acolhidos e encarnados pelas duas filhas Missionárias com amor filial profundo e grande ardor apostólico.

Ambas foram enviadas em missão no Kenya e ambas não se recusaram a cruzar as fronteiras deste país para prestar seu serviço a outros povos, nas graves situações de emergência em que se encontravam durante conflitos.

Irmã Irene, em tempos da primeira guerra mundial passou o oceano, de Mombasa para a costa do Tanzânia, onde por alguns anos prestou seu serviço, na organização Cruz Vermelha, em hospitais (galpões) militares, socorrendo dia e noite os feridos que ali eram trazidos. Tal era seu amor e dedicação que foi justamente chamada “Anjo de paz”.

Voltando para o Kenya, não poupou energias e fadigas subindo e descendo pelas colinas de Ghekondi ao encontro de quem mais precisava de sua atenção e serviço missionário, sem considerar a difícil tarefa que enfrentou na área da educação.

Irmã Leonella enfermeira profissional e professora na escola de enfermagem prestou serviço por muitos anos neste setor em diferentes lugares no Kenya. No início do segundo milênio, diante da trágica situação em que o povo da Somália se encontrava, após anos de uma guerra fratricida, foi feita a ela a proposta de iniciar uma Escola de Enfermagem em Mogadiscio, capital da Somália. Mogadiscio era como que uma cidade fantasma, semidestruída; império da Al Qaeda; cenário de militares armados em cada esquina e de miséria em toda parte. Os cristãos eram perseguidos... A comunidade das Missionárias da Consolata, que ainda lá vivia, era bem querida pelo povo em geral, mas por uma parte da população religiosa fundamentalista, era simplesmente tolerada, dado o serviço indispensável que prestava no hospital, SOS, sobretudo às mulheres e crianças.

Ir. Leonella, não obstante esta realidade acolheu o desafio de iniciar a escola para enfermeiros/as ligada a um hospital administrado pela organização SOS, em Mogadiscio.

Até aqui, quantos elementos em comum na vidas dessas duas Irmãs! Ambas, missionárias em Kenya; disponíveis e corajosas a servir em ambientes e tempos difíceis de guerra, de violência e de extrema pobreza; capazes de deixar o próprio espaço para inserirem-se em territórios além- fronteiras da própria missão; animadas por um único objetivo: recuperar a dignidade da pessoa e manifestar a ternura de Deus por seus filhos e filhas.

Acredito que podemos contudo, afirmar que os horizontes comuns mais evidentes e preciosos encontramos em outra esfera: na dimensão espiritual.
Essas duas Missionárias cresceram na escola do Allamano. Irmã Irene diretamente acompanhada por ele e Irmã Leonella, indiretamente, vários decênios depois. Todavia o que impressiona é a força vigorosa do espírito carismático que modelou a alma missionária de ambas. O carisma do Fundador e a energia de vida espiritual que dele fluía, envolveu intensamente a vida dessas suas filhas que concretizaram o seu sonho. Queria suas filhas assim: Missionárias da Consolata por toda a vida até ao dom da vida – missionárias percorrendo um caminho constante de santidade; dispostas a dar tudo, até ao martírio. São suas as palavras: “Deveríamos ter por voto de servir a Missão também ao custo da vida” – até ao martírio.

De Irmã Irene disse alguém dentre o povo que a conhecia muito bem: “Irmã Irene não morreu por doença, morreu por amor”. O amor levou a Irmã Irene ao dom de si até à morte. De Irmã Leonella conhecemos o seu programa de vida sintetizado em poucas palavras: “Eu espero que um dia o Senhor na sua bondade me ajudará a dar-lhe tudo, ou Ele mesmo o tomará... Porque Ele sabe que é isto realmente que eu quero” (do seu diário).

Nos passos dessas santas Missionárias e de muitas outras que, se deixaram forjar pelo compromisso de uma fidelidade ao Carisma Missionário do Allamano, queremos nós hoje viver a ousadia de uma resposta incondicional ao Senhor e à Missão. Intensifiquemos nosso compromisso na fidelidade em seguir as pegadas de Jesus que com tanto carinho a Consolata nos apresenta neste mês de junho dedicado a ela.

Anair Voltolini é missionária da Consolata no Moçambique