A Missão não é nossa - é de Deus

Irmã Ana Paula Foletto, missionária da Consolata, narra trabalho em Bubaque, Arquipélago dos Bijagós, Guiné Bissau, África.

de Ana Paula Foletto

Quando adolescente, ao ouvir falar das missões, dos missionários e missionárias que deixavam tudo e partiam para países distantes, mesmo não entendendo a profundidade do assunto, aquilo mexia dentro de mim. Por outro lado, como minha família era humilde e sem muitos recursos, eu descartava a ideia, achando que aquilo nunca seria para a minha pessoa. Meus pais eram simples colonos, porém, nos deram uma boa educação para a vida. Somos 11 filhos e eles nos formaram no respeito, na fé, na dignidade e nos princípios cristãos.

grupo-da-guine-bissau-ir-aa-paula-de-pe-da-esquerda-a-direitaO antigo desejo e interesse veio novamente à tona quando chegaram as missionárias da Consolata na cidade vizinha à minha terra natal, Horizontina, Rio Grande do Sul. Fiquei contente, pois a minha curiosidade teria a oportunidade de conhecer mais de perto aquilo pelo qual sentia atração. De fato, as irmãs começaram a visitar as capelas e a fazer o que chamavam de “Animação Missionária Vocacional”. Reuniam a comunidade e falavam de Deus, das missões e algumas vezes convidavam os jovens para falar da vocação missionária. Depois de alguns encontros, percebi que a coisa não era tão difícil e que eu também poderia ser uma missionária. Falei com meus pais desse meu desejo. Eles ficaram surpresos, pois eu nunca havia comentado nada sobre isso. Mas, como bons cristãos, católicos, apoiaram a minha escolha.

Encanto
Com o passar do tempo, eu ia entendendo mais o que era a vida missionária: um serviço de doação total às pessoas mais necessitadas e de modo particular àquelas que ainda não tinham ouvido falar de Deus. Cada vez que eu me encontrava com as irmãs, mais crescia em mim a vontade de ser uma delas. Os encontros iam se sucedendo, até que um dia elas pediram para visitar minha casa, conhecer meus pais e irmãos. Aquilo para mim foi o máximo; era como se já me tivessem aceito para ir morar com elas. Mas, ainda não era hora. Tive que esperar mais alguns meses até que o dia chegou. Eu estava muito contente. Deixar os pais, os irmãos e a casa, doeu, mas era grande minha empolgação. Eu estava me preparando para ser uma missionária da Consolata, para ir para a África!

No tempo de formação, comecei a estudar o Carisma da Congregação. O fato de saber que elas partiam para outros países para evangelizar, não me assustou; antes, me animou ainda mais. Partir como missionária para outras terras ajudou-me até a superar as dificuldades, especialmente as da vida em comum, partilhando a vida com colegas vindas de lugares não conhecidos, com ideias e costumes diferentes dos meus... Mas, cada dia mais ia percebendo que aquele era mesmo o caminho que eu desejava percorrer para dar minha resposta ao Senhor que me chamava. Fui em frente, sempre acompanhada pelas irmãs formadoras que iam me orientando.

A Ilha de Bubaque
Dando um grande pulo na minha história pessoal, em 1992 fui destinada à Missão da Guiné Bissau. Hoje eu me encontro precisamente em Bubaque, uma ilha do chamado Arquipélago dos Bijagós. O arquipélago é composto por 88 ilhas, localizadas na costa do Oceano Atlântico e que fazem parte da Guiné-Bissau, onde também trabalham as missionárias da Consolata. A ilha de Bubaque, tem uma área de 48 km2, 18 dos quais são pântanos alagados pelo oceano durante a maré alta. Bubaque está situada no canto sudeste do arquipélago. É a ilha mais cobiçada pelos europeus, escolhida pelos colonizadores alemães antes da I Guerra Mundial e pelo governo português depois de 1920, como o centro principal das suas atividades no arquipélago. Os alemães construíram até uma fábrica para a extração do óleo de palma (elaeis guineensis) com um porto para navios de pequeno e médio porte para escoarem o produto.

A Missão
A prioridade de nossa presença missionária na Guiné Bissau e na Ilha de Bubaque, é sempre a evangelização e a partilha da fé cristã, traduzida na preocupação pela vida do povo, no estar no meio deles, apoiando-os em suas necessidades, visitando suas famílias, estudando sempre mais sua língua, conhecendo a fundo a sua tradição e cultura, principalmente através da escuta e do diálogo... No fundo, nada fazemos de extraordinário; apenas partilhamos a vida e a fé com o povo e tentamos ir descobrindo a riqueza de sua cultura e costumes.

Nós mesmas nos damos conta de quanto temos aprendido e de quanto ainda temos que aprender desse povo, que vive um dia de cada vez, com serenidade, em harmonia com a criação, sabendo extrair até das dificuldades e momentos difíceis, a alegria de viver. O povo de Bubaque é um povo alegre e muito acolhedor, muito aberto às coisas novas e que lhes façam bem e os ajudem a crescer. De tudo isso, nós, com respeito e amor, usamos como trampolim para, aos poucos, atraí-los sempre mais para perto de Deus. O trabalho missionário não é fácil em nenhum lugar deste mundo; mas para quem tem fé e está convencido de que é esta a missão que Deus lhe pede, tudo se torna possível. O que pessoalmente me ajuda muito a viver esta dimensão é a passagem do Livro de Sofonias 3, 16-17, que diz: “não se enfraqueçam os teus braços, pois, o Senhor teu Deus está contigo, como herói e Salvador”. O que temer, então?

A gente sabe que a Missão não é nossa - ela é de Deus; e por isso, é ele que age, protege, acompanha e abençoa os seus missionários e missionárias. Sinto-me realizada e muito feliz, como mulher consagrada, tendo a oportunidade de revelar a ternura de Deus e a sua providência a este povo querido e amado por Ele.

Ana Paula Foletto, MC, é missionária da Consolata atuando na Guiné Bissau, Bubaque.