UM BATE-PAPO COM ... OS NOVOS “BROTOS” DA REGIAO AMÉRICA

 “O instituto me parece cada vez mais necessário neste mundo de incertezas, que desvaloriza as raízes culturais e religiosas. A cada ano que passa, identifico-me cada vez mais com o carisma. (Andrea)

Por Stefania Raspo

Sorridentes, jovens e cheias de energia e desejo de missão: são elas Andrea, Muriel e Nadia, as postulantes do continente americano que em breve entrarão na etapa do Noviciado na Itália. Em 2021 caminharam com o povo Quechua junto com a comunidade de Vilacaya, Bolívia. Chamamos carinhosamente às nossas jovens de Rebentos, são os brotos novos da videira centenária do nosso Instituto. Hoje vamos bater um papo com elas!

Vocês viveram o tempo do postulantado na Bolívia, mas... o que foi o postulantado para você?

“Certamente é um tempo de graça onde pudemos criar cada vez mais laços de amor com Deus e nossas irmãs” começa Andrea.

“É tempo de encontro, de doação, de crescimento, é tempo de se lançar ao mar”, continua Nadia.

“É um tempo de silêncio, vida comunitária, trabalho, oração... um tempo que nos prepara para o que virá a seguir: o Noviciado e depois a missão”, acrescenta Muriel.

"Afinal, é o momento em que você diz sim ou não à missão!" diz Nadia “é tocar a missão com todos os sentidos e não apenas como a experiência do passado, mas é a confirmação para abraçar a missão ad gentes e ad vitam, com tudo o que são. É permitir-se mergulhar em Deus e encher-se de seu amor”. E Muriel conclui: "O postulantado é deixar-se conduzir pelo Senhor e não eu controlar o leme, mas abandonar-me nas suas mãos: é um caminho árduo, mas muito enriquecedor!"

Qual foi o seu primeiro pensamento quando recebeu a notícia de que o postulantado seria em Vilacaya?

germogliAndrea recomeça: “Fiquei muito feliz, porque foi a oportunidade de finalmente poder conviver com Nadia e Muriel (que devido à pandemia não pudemos estar juntos em 2020. Cada qual permaneceu em seu país de origem), e também com a comunidade de Vilacaya e com o povo andino. Certamente, foi uma surpresa (eu deveria ter ido para a Itália no noviciado, mas também devido a pandemia os planos mudaram), mas olhando para trás, percebi que foi que Deus me conduziu até aqui, que Ele guia minha vida e me ama com amor incomparável: vivi uma experiência que jamais esquecerei e com a qual aprendi muito".

Nadia nos conta: “Quando me disseram que faríamos o postulantado em Vilacaya, meu coração se encheu de alegrias e medos. Eu conhecia a comunidade, a casa, as pessoas, então não havia muitos medos. Mas eu sabia que haveriam muitos desafios: sair do conforto ou da facilidade da cidade para entrar no campo me fez pensar se eu iria realmente conseguir. Colocou-me enfrente dos meus limites, convidou-me a colocar-me nas mãos de Deus e a confiar nEle. A alegria foi a oportunidade de estar frente a frente com a mais pura realidade ad gentes das missões da Argentina e da Bolívia: não conhecer a língua quéchua e a cultura: eram desafios que eu queria ter, para marcar com uma marca indelével o caminho percorrido até aqui”.

Muriel compartilha: “Pensei: quanto Deus me ama! Porque o povo andino é o meu "ponto fraco": eles me fascinaram desde o primeiro momento em que os conheci, a primeira vez que fui a Vilacaya, em 2016. A comunidade de Vilacaya sempre me acolheu com muito carinho, então voltar foi como voltar em casa, arregacei as mangas e disse: "O que posso fazer?" ou também: "Em que posso ajudar?" Vilcaya é um lugar que desafia e ensina algo novo a cada dia, o fantástico é que você aprende com crianças, adultos, idosos, jovens… cada um com sua posição e experiência.

O que você aprendeu com o povo de Vilacaya?

Desta vez é Muriel quem começa: “As pessoas de Vilacaya me ensinaram muito, realmente me emociona pensar nisso. São pessoas de grande sacrifício, quando você trabalha, trabalha, e não importa se chove, ou se o sol está forte o suficiente para quebrar as pedras: eles trabalham sem reclamar desde cedo. Eles são particularmente reservados, mas absolutamente generosos, admiro sua capacidade de doação, de oferecem tudo, até o que não têm, para que você se sinta acolhida. Guardo no coração os momentos da refeição partilhada.

Nadia acrescenta: "São muitas lições recebidas: as pessoas me mostraram que não importa o quanto você tenha, ou de que cor você seja, o quanto você sofreu ou não, mas você sempre será digno de receber um sorriso, mesmo que seu coração esteja despedaçado, e o olhar permite vislumbrá-lo. Aprendi que a vida em comunidade não é apenas viver perto uns dos outros, mas sim ajudar; a vida em comum, o trabalho comunitário, tudo se torna mais fácil em conjunto... As pessoas me ensinaram que, o que possuo só tem valor se é partilhado; que cada dia é uma nova oportunidade de agradecer, de ir trabalhar a terra, de lutar pelo que se quer. Que sempre vale a pena tentar. Que na dor Deus é consolação, companheiro e amparo. Que diante da injustiça, da desigualdade, vale a pena fazer a diferença, mesmo que seja uma coisa pequena”.

E Andrea: “Aprendi a ouvir, mais do que falar, que não devemos receber algo sem dar nada em troca, que nada é mais sagrado do que nossas raízes religiosas e culturais; que pequenos gestos podem fazer uma grande diferença na vida de uma pessoa; que a sabedoria dos simples vale muito mais do que a dos grandes. Que os mortos continuem vivos na memória sagrada das pessoas que lutam para viver; que basta abrir a porta de nossa casa para nos sentirmos como uma família.

Vocês realmente aprenderam muito… e o que doaram ao povo de Vilacaya?

IMG-20211128-WA0003Nadia: “Eu realmente acho que dei muito pouco… e recebi muito. Talvez, pude dar um espaço de escuta, uma risada, um jogo compartilhado, um abraço, uma mão estendida disposta a ajudar, a vontade de conhecer a cultura com respeito, uma palavra de incentivo, acompanhar para descobrir novos horizontes. .."

Muriel: "Acredito que o que dei foi o tempo, a escuta, momentos de brincadeira, conversa, alegria e também minhas orações pelas diferentes realidades que encontramos"

Andrea: “Sinceramente, recebi mais do que dei... Claro, eu não conseguia me comunicar muito bem pelo meu espanhol pobre, mas não era tanto o falar bem, mas a abertura do coração que me permitia me aproximar das pessoas.

Qual é a imagem, ou som, ou cheiro que você nunca esquecerá do seu tempo em Vilacaya?

Muriel responde assim: “Se fecho os olhos, vejo-me ali: no vale onde costumava rezar, ou simplesmente caminhar. Então vejo as mulheres idosas andando pelas ruas, em lugares desertos, sob o sol, com seus tecidos coloridos carregados. Outra coisa que nunca vou esquecer é a feira de sábado: uma mistura de cores, cheiros e sons. E as festas: o espírito festivo do povo, as festas coloridas, as devoções populares muito fortes..."

Andrea partilha: “Ah… com certeza são muitas imagens que me vêm à mente e que levarei sempre comigo. Certamente as mais queridas são os sorrisos das crianças, que me fizeram esquecer meus pequenos problemas e pensar em como podemos ser felizes dando amor e consolo às pessoas. Outra imagem indelével diz respeito a todos os gestos de agradecimento do diretor da Suquicha e pensar que tudo isso é possível porque temos benfeitores que nos ajudam, e somos apenas instrumentos nas mãos de Deus”!

Enquanto Nadia afirma: "Acho que nunca esquecerei a imagem da aldeia de Vilacaya vista do monte chamado" Calvário ", as comunidades espalhadas nas montanhas, onde se diz: é impossível que haja alguém lá, e lá você vai e encontra uma comunidade reunida esperando por você e se alegra com sua chegada. Outra imagem que me tocou muito é a dos pastorinhos brincando entre as ovelhas”.

Como jovem, depois de vários anos de caminhada, como lhe parece o Instituto?

Nadia começa: “Depois de seis anos, olho para ele como se olha para a família, com seus erros e seus acertos. Uma família que tenta caminhar junto, que escuta, olha para a realidade ao seu redor, em busca de novos caminhos. Uma família que conhece cada um de seus membros, que sabe das dificuldades de cada um e os acompanha, sobretudo; que possa dar o melhor de si, que cresça para chegar à santidade, para ser o mais semelhante possível ao amor de Deus. Um instituto que é mãe, terna, delicada, segura, convicta, firme, que procura que todos os membros sejam felizes, que se encontre sempre o rosto do Amado; amada para poder amar. Uma família que cresce a partir de seus erros, sabe dar um passo atrás, sabe pedir desculpas e sempre busca o bem comum em todos. Um instituto que se adapta aos sinais dos tempos sem perder sua essência, retorna às suas raízes, planeja o futuro. Um instituto que ama profundamente e que luta por cada um de seus membros.

Andrea continua: “O instituto me parece cada vez mais necessário neste mundo de incertezas, que desvaloriza as raízes culturais e religiosas. A cada ano que passa, identifico-me cada vez mais com o carisma e com a proposta do nosso Fundador, que quis levar consolação a todos os povos, especialmente aos não cristãos. Sinto o mesmo desejo: dar a conhecer Cristo através de pequenos gestos de amor e carinho”.

E finalmente Muriel: “Para mim, dizer Instituto das Missionárias da Consolata é dizer família, é algo que tenho muito claro desde o início, até o meu discernimento começar em 2014. Com o tempo, amadureceu esse sentimento de família. O Instituto me deu as ferramentas para poder compreender melhor e viver mais livremente minha fé e a missão que o Senhor já havia pensado para mim. Formando-me a nível humano e apostólico, com as irmãs que são um tesouro que carrego comigo e podendo experimentar a interculturalidade e também a intergeracionalidade desde o início do meu caminho formativo”.

E daqui a 20 anos, onde e como você se imagina?

Andrea: “Essa pergunta é muito difícil! Nos últimos anos aprendi que não exisste certeza ou segurança, ainda mais na vida missionária; mas me imagino morando em algum país da África ou da Ásia, talvez abrindo uma nova comunidade... quem sabe? O que sei é que o meu caminho é mesmo um mistério, talvez reabriremos na Somália, e poderei contribuir para a nossa história naquelas terras fecundadas pelo sangue da nossa Beata Leonella Sgorbati... não custa nada sonhar, não? "

Muriel: "Também para mim é difícil ver-me daqui a 20 anos, mas o desejo é poder viver como Irmã Missionária da Consolata sempre fiel ao Senhor, na doação diária e fraterna, com mãos e pés dispostos para ir onde o Senhor e as minhas irmãs pensam que posso ser um instrumento útil para o anúncio do Evangelho e a promoção humana, procurando a santidade de forma extraordinária no ordinário”.

Nádia: "Digamos que dentro da família Consolata seja um pouco difícil pensar-se tão longe no tempo...porém, a Nadia de 50 anos então, se encontrará na missão que Deus a confiará vivendo com alegria, adaptando-se às mudanças, tentando sempre estender a mão e roubar um sorriso, que não deixa ninguém ir sem que saibam que o que tem a dizer e oferecer é importante!"

Stefania Raspo é Missionária da Consolata na Bolivia